Projetos, games e investigação científica auxiliam os alunos a desenvolverem a colaboração, a cooperação e a criatividade, essenciais para a postura empreendedora
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que estabelece as aprendizagens fundamentais que todos os estudantes devem desenvolver ao longo da Educação Básica, o empreendedorismo se refere a uma “competência essencial ao desenvolvimento pessoal, à cidadania ativa, à inclusão social e à empregabilidade”.
Embora muitas pessoas ainda considerem que o conceito diz respeito apenas a abrir uma empresa ou criar um produto, trata-se mais de uma postura de ação perante a própria vida, aos estudos e ao mundo do trabalho, que envolve protagonismo, proatividade, criatividade e busca de solução para problemas. Diz respeito também a ter autonomia, persistência, resiliência e foco para traçar objetivos.
Frente a um mundo em constante transformação, cujas perspectivas são incertas e exigem grande capacidade de adaptação, essas habilidades ganham importância e têm sido cada vez mais exigidas dos estudantes e dos profissionais. Assim, como a escola pode trabalhar o empreendedorismo e essas habilidades no currículo escolar?
Aprendizagem baseada em projetos
Uma das maneiras de fomentar o protagonismo dos estudantes é trabalhar com metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em projetos. Por meio dela, os alunos buscam soluções para problemas reais — do bairro ou da escola, por exemplo — articulam conhecimentos de diferentes componentes curriculares e trabalham em grupo, possibilitando o desenvolvimento da cooperação, da colaboração e da empatia, entre outras habilidades. A aprendizagem por projetos também torna a aprendizagem mais concreta e significativa, contribuindo para o engajamento dos estudantes.
Nesse processo, é importante que os alunos tenham um ambiente seguro para exercerem a autonomia e a criatividade e possam experimentar, testar e errar, sempre entendendo o erro como um elemento do aprendizado.
Investigação científica
A abordagem investigativa é outra forma de incentivar o empreendedorismo dos estudantes. Ao formular uma pergunta ou problema sobre um determinado tema, pesquisar, elaborar hipóteses, coletar e analisar dados, interpretar os resultados e chegar a uma conclusão, os estudantes se apropriam das etapas do conhecimento científico, desenvolvem a organização, o planejamento, a autonomia e a curiosidade.
A atividade pode envolver qualquer componente curricular, ser realizada em grupo, e os resultados compartilhados com a turma. A definição do tema de pesquisa merece uma atenção especial, pois deve despertar o interesse dos alunos e, preferencialmente, fazer parte de sua realidade. O papel que o professor assume também é fundamental: ele deve ser um mediador da aprendizagem, abrindo espaço para o protagonismo dos alunos.
Aulas gamificadas
Outra maneira de incentivar o empreendedorismo nos alunos é por meio dos games. Os jogos são ferramentas familiares aos estudantes e uma forma lúdica de ensinar, que pode contribuir para aumentar a atenção, o interesse e o engajamento dos alunos. Eles podem envolver atividades com e sem o uso da tecnologia, trabalhando a motivação, a persistência e a resiliência, habilidades fundamentais para o empreendedorismo.
A capacidade de trabalhar em grupo, presente na aprendizagem por projetos, na investigação científica e nas aulas gamificadas, é essencial para qualquer profissão do século XXI. Mas, para isso, não basta apenas juntar alunos em um mesmo grupo e designar uma tarefa. As atividades precisam ter intencionalidade pedagógica e incluir todos os alunos, considerando que eles podem ter diferentes níveis de aprendizagem e saberes distintos e complementares.
Empreendedorismo para uma educação emancipadora
A publicação “Lições de empreendedorismo para o alcance de uma educação emancipadora e transformadora: guia do professor”, elaborada pelo Instituto Êxito de Empreendedorismo em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), reuniu 16 lições para os professores trabalharem a cultura empreendedora com os estudantes. Elas envolvem competências pessoais, técnicas, gerenciais e sociais:
- Autoconhecimento: desenvolver o autoconhecimento, apresentando cuidados com a saúde física e o equilíbrio emocional.
- Raciocínio lógico: definir ideias e pensamentos de acordo com um padrão lógico que permita chegar a decisões importantes.
- Comunicação e expressão: comunicar-se de forma assertiva e criativa.
- Criatividade: formular novos padrões e criar ideias inovadoras para o desenvolvimento de um projeto.
- Visão empreendedora: ter uma atitude empreendedora em relação aos desafios da vida pessoal e profissional.
- Tomada de decisão: saber realizar escolhas com segurança.
- Otimização de processos e recursos: ordenar de forma sistemática e metódica os processos e recursos necessários para atingir determinados objetivos.
- Análise estatística: analisar dados e transformá-los em informações úteis e relevantes para a tomada de decisões.
- Análise de plano de negócios: avaliar estratégias que sustentam o desenvolvimento do projeto.
- Negociação: estabelecer acordos e consensos com pessoas e grupos, administrando conflitos e interesses e tentando chegar a resultados positivos para todas as partes envolvidas.
- Gestão de recursos financeiros: potencializar o crescimento e os lucros da empresa.
- Liderança e gestão de pessoas: dirigir e influenciar positivamente as pessoas, mobilizando-as para os objetivos do projeto.
- Operação de negócios: compreender como o negócio funciona, sua dinâmica e seus processos.
- Gestão de recursos tecnológicos e inovação: implementar novas ideias que adicionem valor ao processo e resolvam problemas.
- Marketing digital: entender o ambiente digital e saber usar as mídias digitais.
- Empreendedorismo social e sustentável: empreender observando causas sociais e ambientais, atento às necessidades e aos benefícios do negócio para a comunidade.
Além do guia do professor, que contém a descrição do conteúdo, dos temas e das estratégias das atividades – que podem ser adaptadas de acordo com a realidade de cada escola e turma – o material didático para os alunos também está disponível.
Janguiê Diniz, fundador do Instituto Êxito, diz na apresentação do guia que “a teoria ensina, mas só a prática consolida o aprendizado”. Segundo ele, a ideia é que o estudante “aprenda e possa colocar em prática todo o conhecimento absorvido nas aulas e atividades, tomando as rédeas do seu futuro e descortinando infinitas possibilidades para a sua vida”.