Para enfrentar os desafios do século XXI, mais do que conhecimentos curriculares e técnicos, é preciso oferecer às crianças e aos jovens uma educação integral, baseada no desenvolvimento de competências. Elas são definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”.
“Nesse contexto, nos últimos tempos, o estímulo criativo dentro da sala de aula tem sido mais incentivado. A criatividade também está dentro do ‘pacote’ de skills necessárias para o mercado de trabalho, como mencionado no relatório “Future of Education and Skills 2030”, diz Victor Haony, assessor pedagógico da Mind Makers.
Para tornar os alunos mais criativos existem práticas diárias que podem ser aplicadas para ampliar os horizontes e mantê-los em constante desenvolvimento. Victor sugere quatro delas:
Adicionar desafios às tarefas
Esta é uma forma de incentivar que os estudantes não busquem soluções óbvias. Problemas podem ser resolvidos de modos distintos, pois as pessoas pensam e desenvolvem soluções de maneiras diferentes. “Ao invés de apenas guiar os alunos para um caminho de resposta, estimulá-los a criarem sua própria resolução, seguindo o seu modo de pensar, a partir do seu repertório, é fundamental”, destaca Victor.
Também é importante que os professores proponham problemas conforme a faixa etária dos alunos e, mesmo em disciplinas convencionais, eles sejam colocados a se questionarem se há de fato apenas um caminho para resolver as questões colocadas.
Adotar pontos de vista opostos
É preciso que os estudantes considerem o máximo de perspectivas possíveis. Em diversos momentos na sala de aula são apresentados assuntos sobre os quais os alunos precisam tomar posições, como ao redigir uma redação ou participar de um debate.
Nessas práticas, é comum que eles defendam o ponto de vista que mais os agrada, ou ainda, que mais adquiriram repertório. “Contudo, ao incentivá-los a defender o ponto de vista oposto daquele que seria sustentado por eles, estamos trabalhando não só a criatividade, mas também a aquisição de repertório e a prática argumentativa”, aponta o assessor pedagógico.
Ler e consumir diversos conteúdos
Aumentar o repertório também é uma forma de favorecer as ideias criativas. “Para isso, a leitura é uma excelente ferramenta, pois permite a criação de cenários e interpretações e a imaginação dos personagens, ou seja, colocamos o nosso ‘eu criativo’ para trabalhar”, considera Victor.
De acordo com um levantamento realizado pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) sobre hábito de leitura, 66,3% dos estudantes brasileiros de 15 a 16 anos afirmam ler apenas até 10 páginas de textos durante o ano letivo.
“A leitura é um desafio para o Brasil e nossos alunos precisam ser estimulados e cobrados para que ela seja parte do seu processo formativo”, ressalta o assessor. “Incentivar a leitura de diversos gêneros textuais, além de desenvolvê-los, também ajuda a criar o hábito da leitura e a estimular os estudantes a buscarem por mais informações. Tudo isso colabora para formar um cidadão crítico que verifica fontes, para não ser enganado com notícias falsas”, completa.
Mudar a rotina para ampliar as perspectivas
Práticas de sala de aula convencionais, ou seja, aulas expositivas, são importantes para o processo formativo, mas manter todas as aulas nesse formato leva os alunos a serem reprodutores de padrões e não criadores de soluções. Por isso, é importante utilizar métodos diferentes para ensinar, como sala de aula invertida, aprendizagem baseada em projetos, gamificação, entre outras metodologias ativas de aprendizagem.
Essas atividades oferecem ganhos não apenas para os estudantes, mas também para o corpo docente, uma vez que ele também será estimulado a criar e desenvolver novas práticas de sala de aula.
“Atualmente, sabemos que a sala de aula convencional e expositiva não atinge a pluralidade que os alunos têm e nem consegue viabilizar todas as habilidades que eles poderiam desenvolver”, salienta Victor. “Devemos criar um espaço novo, mudar as ações e guiar os estudantes para caminhos diferentes no ensino. Afinal, nosso objetivo é ter um estudante completo e com uma formação cidadã que o prepare para fora dos muros da escola.”