Um relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre Inteligência Artificial e Empregos aponta que 27% dos empregos nos países ligados à organização são profissões com alto risco de serem substituídas pela IA.
Essa é uma preocupação de muitos e assunto de debate entre especialistas. No entanto, a tecnologia não consegue substituir habilidades socioemocionais que são fundamentais para vida.
Autoestima, colaboração, liderança e tolerância são apenas algumas das 14 habilidades sociais que podem ser desenvolvidas com o apoio da escola. Na disciplina Empreendedorismo Criativo, os estudantes aprendem o processo prático de estruturação de um modelo de negócio, mas, acima de tudo, desenvolvem pelo menos essas 14 habilidades que farão a diferença na vida ؙ— profissional e pessoal.
Empreendedorismo Criativo para desenvolver Habilidades Socioemocionais
Ao falar de Empreendedorismo Criativo, talvez a primeira ideia que venha a mente é de uma empresa ou a criação de uma startup. No entanto, como explica Renan Cerqueira, coordenador pedagógico da Plurall Store e um dos autores de Empreendedorismo Criativo da Mind Makers, a disciplina vai além.
“A ideia principal é desenvolver os estudantes em pessoas capazes de criar soluções. Consideramos o termo empreendedorismo como a capacidade de identificar um problema, planejar e colocar em prática uma solução de forma criativa”, explica. “É a capacidade de gerar ideias e de pensar de forma diferenciada.”
Por essa razão, ao trabalhar esse conceito, a disciplina Empreendedorismo Criativo desenvolve pessoas mais preparadas e capazes de intervir na sociedade. Sujeitos aptos para buscar soluções para os problemas que surgirem.
“Pode ser que essa solução venha como um negócio ou um empreendimento, mas não necessariamente como algo que gere dinheiro, a solução também pode ser nesse sentido de resolver situações”, explica Cerqueira. “Independentemente da carreira ou do caminho que escolherem para a vida, esses estudantes serão pessoas capazes de criar soluções para demandas que aparecem. Seja como médico, psicólogo ou professor, eles terão essa postura ativa, de buscar e resolver as questões que aparecem de forma prática porque problemas e dificuldades vão ter em qualquer profissão ou trabalho que forem desempenhar.”
Essas habilidades são desenvolvidas por meio de ferramentas aprendidas ao longo do Ensino Médio. No final do curso, os estudantes aprendem a ser pessoas mais proativas, aptas a resolverem questões e preparadas para enfrentar o mercado de trabalho e os desafios do século 21.
Mas quais são as habilidades desenvolvidas no Empreendedorismo Criativo?
Habilidades socioemocionais são as competências ligadas à forma como uma pessoa se comporta diante das situações. Impactam diretamente em como age e toma decisões no seu dia a dia. Habilidades que, a cada dia, ganham mais relevância no mercado de trabalho.
Como destaca Cerqueira: criatividade, o pensamento crítico, empatia, colaboração, liderança, persistência, storytelling, comunicação, trabalho em equipe, gestão de projetos como dar e receber um feedback efetivo, saber identificar e definir problemas, pensamento crítico, geração de ideias, lidar com o mundo digital, traçar caminhos futuros, saber fazer perguntas, habilidades de pesquisa e até mesmo criar modelo de negócio. Todas essas competências são desenvolvidas nas aulas de Empreendedorismo Criativo.
Mas qual a importância de conseguir desenvolver essas habilidades nos estudantes tanto para o mercado de trabalho como para a vida? “A gente tem visto, cada dia mais, um mundo em constante aceleração e passando por mudanças; as pesquisas mostram que surgirão no futuro profissões que hoje a gente não tem ideia, sem contar que outras tantas deixarão de existir”, explica um dos autores da disciplina Empreendedorismo Criativo.
Por essa perspectiva, para ele, não faz tanto sentido as escolas só focarem em conteúdo ou direcionar esse conteúdo para desenvolver habilidades para uma profissão específica. “Faz mais sentido a gente conseguir munir os alunos com ferramentas que independente do problema que forem enfrentar, serão capazes de resolver e de se adaptar a qualquer cenário que apareça.”
Com futuro que se desenha cada vez mais imprevisível, são essas habilidades socioemocionais que permitirão a adaptação em qualquer cenário. “Os estudantes saem da escola capazes de conseguir ganhar repertório, fazer conexões e pensar diferente, um movimento muito importante para o mercado de trabalho e para a vida.”
O papel de cada habilidade para o futuro
Storytelling: hoje em dia, em qualquer profissão, é importante conseguir construir uma narrativa. Nada adianta ter a melhor ideia do mundo, ser capaz de criar solução e não saber comunicar essa ideia. É importante desenvolver a habilidade de comunicação, saber explicar o que está pensando e convencer as pessoas.
Essa narrativa faz mais sentido, principalmente, quando há trabalho em equipe. “A gente não consegue fazer nada sozinho, empreender é um ato coletivo: quando a gente trabalha, cria solução ou está envolvido em qualquer produção, trabalhamos em equipe”, observa Cerqueira. “Na escola, em Empreendedorismo Criativo, são oferecidas aulas voltadas para ensinar a trabalhar em equipe: como fazer uma reunião? Como desenvolver um projeto?”.
Por essa razão, os alunos também desenvolvem a habilidade de gestão de projeto. “Mesmo que o estudante não venha a trabalhar como gestor de projetos, ele vai precisar dirigir a própria vida” diz Cerqueira.
Ainda, dentro do trabalho em equipe e desenvolvimento de projetos, os alunos aprendem a importância de dar e receber feedback. Em qualquer profissão e, em diferentes situações, precisamos dar um retorno para outra pessoa e, ao mesmo tempo, também recebemos críticas. Como lidar com essa crítica? Como fazer uma crítica de forma construtiva? Essa é uma habilidade importantíssima para o profissional do futuro.
Definir um problema. O físico Albert Einstein dizia que se ele tivesse uma hora para resolver um problema, ele passaria 55 minutos entendendo a pergunta/ o problema, antes de pensar na solução. Essa habilidade de entender o que de fato preciso resolver, qual é a raiz do problema é muito importante para conseguir pensar em soluções.
Junto a essa habilidade está a capacidade de pensar criticamente. É saber olhar para a sociedade ou para o contexto em que está inserido e conseguir pensar criticamente nas situações que aparecem ali e ter ideias. “Quem não quer na sua equipe, no mercado de trabalho, alguém que tem uma capacidade de pensar, propor alternativas e ideias para diferentes situações? Cada vez mais, a demanda por gerar ideias é algo importantíssimo para a vida e para o mercado de trabalho, porque os desafios estão cada vez mais complexos”, destaca Cerqueira.
Ter ideias e saber colocá-las em prática. A habilidade de execução de projeto está associada a pegar uma ideia e conseguir desenvolvê-la até o final. Outra habilidade é saber lidar com o mundo digital. Como, por exemplo, desenvolver um produto digital.
“A habilidade de traçar caminhos para o futuro: como os estudantes estão enxergando a vida deles depois do Ensino Médio? Como é que eu posso planejar a minha vida? A partir de agora, independente do ponto que estiver na minha carreira ou na minha vida, como vou planejar meu futuro? Essa é a habilidade de enxergar e refletir sobre o amanhã”, destaca o autor.
Saber fazer perguntas é uma habilidade que permite ganhar mais repertório, ser mais criativo e a aprender cada vez mais.
Habilidade de pesquisa é a capacidade de entender bem o contexto em que a pessoa está inserida e aprofundar em algumas questões – algo fundamental para quem quer criar um modelo de negócio. “Acho que é uma habilidade importante mesmo que eventualmente a pessoa não venha a ser empreendedora, mas saber entender uma lógica e as divisões para gerir um negócio. Uma habilidade que o mercado de trabalho cada vez mais busca porque traz a noção de pertencimento, o ‘sentimento de dono’. Uma visão de negócios do todo. Um profissional que não se preocupa só com a sua parte, mas tem uma visão geral de tudo que precisa ser resolvido.”
Todas essas habilidades podem ser desenvolvidas na escola durante atividades como o desenvolvimento de projetos. Os estudantes vão sendo expostos às situações e vão aprendendo a lidar com cada uma. Nesse sentido, ao término do Ensino Médio, estarão muito mais preparados para o dia a dia da faculdade e para o mercado de trabalho.
Na prática, como desenvolver essas habilidades em sala de aula
Para que os estudantes possam desenvolver essas habilidades, eles são desafiados a colocar a mão na massa. Renan Cerqueira compartilha alguns exemplos e situações em que professores podem auxiliar os estudantes a desenvolverem habilidades em sala de aula.
No módulo chamado Todos Somos Criativos o foco é que os alunos consigam se reconhecer como pessoas criativas. Para isso, os professores fazem o desafio das maçãs. Eles devem desenhar trinta maçãs em oito minutos. Depois disso, cada maçã precisa ser diferente uma da outra — justamente para estimular a capacidade de gerar novas ideias, de fazer sempre algo diferente.
“Quando a gente analisa o que os alunos produzem é muito interessante porque dá pra discutir com eles criatividade, uma ideia muito mais associada a quantidade do que qualidade”, avalia Cerqueira. “Quanto mais maçãs diferentes eles vão fazendo, mais desbloqueiam outras ideias, o que obriga a pensarem maçãs em formatos diferentes.”
No início, desenham maçãs mudando só a forma geométrica, depois passam a fazer maçã de rosto, uma maçaneta, uma torta de maçã, um suco de maçã e a criatividade vai se desenvolvendo, um processo de criação.
“O importante é não ter julgamentos, conseguir um espaço aberto e seguro para ter ideias loucas e, a partir daí, partir para o desenvolvimento de um projeto, que é demonstrar como esse processo criativo funciona”, explica Cerqueira.
Ao desenvolver o projeto, os estudantes precisam trabalhar em equipe. A turma é dividida em várias áreas: marketing, produção etc. e vão colocando as ideias em prática. O objetivo é colocar a mão na massa para vivenciar aquela experiência. “Eles vão ter de desenvolver a habilidade de planejamento e vão precisar escutar os colegas, afinal, é um trabalho em equipe.”
Ao elaborar o projeto, precisam estabelecer etapas de desenvolvimento, além de desenvolver a importância de dar feedback para o colega. Se algo der errado no grupo, eles precisam conversar entre eles para resolver. “A gente tem uma aula de como lidar com conversas difíceis e como dar feedback.”
“Em Empreendedorismo Criativo, trabalhamos na perspectiva social. Temos um módulo em que os estudantes desenvolvem um projeto durante um ano relacionado a alguma das ODS, da ONU, algum dos objetivos do desenvolvimento sustentável”, explica Renan. “No primeiro semestre, eles precisam entender, ter empatia sobre um desses ODSs para chegar na raiz do problema. E, no segundo semestre, vão produzir uma solução para aquele problema que eles apontaram no semestre anterior.”
Com esses projetos eles vão se desenvolvendo e compreendendo de forma prática novos conceitos e habilidades.