A disciplina Pensamento Computacional foi criada visando ensinar os fundamentos essenciais da Ciência da Computação para os estudantes. Muitas pessoas podem pensar que a matéria é baseada em termos complexos e conteúdos específicos, sem uma aplicação prática no cotidiano.
Porém, essa é uma ideia equivocada. Daniel Freitas, assessor pedagógico da Mind Makers, afirma que as escolas de Educação Básica têm o dever de estimular o desenvolvimento de habilidades essenciais para o mundo contemporâneo nos alunos. “Não é segredo ou mistério que a computação é parte do nosso dia a dia. É quase impossível que qualquer profissional de hoje desenvolva uma atividade sem interagir, de alguma forma, com recursos computacionais.”
Por isso, quando a disciplina ensina sobre computação, também traz para a sala de aula uma realidade que já é parte do cotidiano dos alunos. Além disso, desenvolve habilidades que podem ser utilizadas nos demais contextos da vida do estudante, como o pensamento lógico, a abstração, o reconhecimento de padrões e a resolução de problemas.
Pensamento lógico
Trata-se da capacidade de desenvolver um raciocínio de forma coerente, consistente e sequencial, geralmente seguindo princípios lógicos e regras predefinidas. Um exemplo é cozinhar com base em uma receita pronta, ou seja, seguindo uma série de passos em determinada ordem para chegar a um resultado ou uma conclusão.
No Pensamento Computacional, isso pode ser abordado, por exemplo, ao explicar como ocorre o envio de uma foto de um aparelho para um grupo de pessoas no WhatsApp. “Algo que todo mundo faz diariamente, várias vezes ao dia”, comenta Daniel. “Mas como a foto sai do meu celular e aparece no de 100 pessoas de forma simultânea?”
Segundo o assessor pedagógico, os estudantes aprendem que toda tela digital é composta por pixels, pequenos pontos de luz que podem assumir três cores primárias (RGB: red, green, blue ou vermelho, verde, azul), e que a combinação delas permite um espectro de bilhões de cores. Quando a foto é enviada, é apresentada numa tela digital a partir de dígitos binários (zeros e uns, presença ou ausência de energia), e cada pixel assume uma cor específica. “Quando se fala em Pensamento Computacional em sala de aula e a sua implicação no dia a dia, um dos benefícios é permitir ao aluno entender a lógica por trás de atividades corriqueiras como essa.”
Abstração
É uma operação intelectual que envolve o isolamento de um elemento à exclusão de outros. Ou seja, em meio a inúmeros detalhes diferentes, é a capacidade de focar nas informações mais importantes. Por exemplo, no planejamento de uma viagem, ao precisar filtrar informações dentre o transporte, a alimentação, os pontos turísticos, etc.
No contexto de computação, é possível isolar uma dúvida ou um objeto de estudo no contexto de uma situação mais ampla. No caso de uma pesquisa em um servidor de um banco online, por exemplo, é possível considerar diversos fatores — o design do site, a velocidade de busca e o número de acessos, entre outros. Ao escolher um desses aspectos para analisar ou estudar, estamos praticando abstração, desconsiderando as questões que não têm relação com o enfoque.
Reconhecimento de padrões
Essa habilidade é fundamental em nosso dia a dia. A identificação de grupos de pessoas com os mesmos gostos na escola, a previsão do tempo com base em padrões climáticos anteriores e a classificação de animais e plantas são algumas das ocasiões em que o reconhecimento de padrões é utilizado.
No contexto digital, é possível pensar na identificação de fake news com base no formato da notícia ou do site em que ela foi publicada. Outro exemplo é a verificação de segurança em uma página da internet para saber se um site é original ou clonado. “São questões que fazem parte da vida do aluno e das pessoas”, diz o especialista.
Resolução de problemas
O nome é autoexplicativo: trata-se do uso de métodos, de uma forma ordenada, para encontrar soluções para problemas específicos. Um exemplo é a montagem de um móvel com base em um manual de instruções.
Já no Pensamento Computacional, o entendimento dos fundamentos científicos da ciência da computação citados nos itens anteriores pode incentivar o aluno a se posicionar de forma crítica e analítica. Com isso, ele poderá propor melhorias, atualizações, inovações e até mesmo participar, futuramente, de discussões sobre “segurança da informação”, “privacidade de dados” e “direito ao esquecimento no mundo digital”, por exemplo.
A sociedade atual demanda pessoas que consigam entender os fundamentos básicos por trás da ciência chamada computação. “O pensamento computacional é a única disciplina que tem a responsabilidade de abordar esses pontos e de permitir que o aluno, a partir desse entendimento, compreenda o mundo do qual ele faz parte”, destaca Daniel.