Como ajudar os alunos a desenvolver a empatia?

Dinâmicas e atividades, como “na pele do outro”, permitem que os estudantes se coloquem no lugar de outra pessoa para entender suas dificuldades

Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostrou que existe um fenômeno de falta de empatia dos alunos em idade escolar. A pesquisa apontou que 42,6% dos jovens apresentaram um déficit de empatia e 31,1% demonstraram ter alguma dificuldade no desenvolvimento de relações afetivas.

A autora do artigo diz que essa situação pode causar obstáculos nas interações sociais. “A empatia é uma habilidade muito requerida no contexto da adolescência, envolvendo comportamentos como respeitar as diferenças, saber ouvir e lidar com o outro, que caracterizam um desafio próprio do que é exigido nessa fase.

A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que estabelece as aprendizagens essenciais durante a Educação Básica, aborda a empatia como competência que deve fazer parte do desenvolvimento social da criança e do jovem. A Base estabelece a necessidade de compreender, ser solidário, dialogar e colaborar com todos, respeitando a diversidade social, econômica, política e cultural.

O documento também define a empatia como uma habilidade que desempenha um papel crucial na formação de indivíduos mais respeitosos e compassivos, permitindo que eles desenvolvam a capacidade de compreender e sentir as emoções dos demais.

A atividade “na pele do outro”

Luiza Helena Sudário da Silva, assessora pedagógica da Mind Makers, reforça que se colocar no lugar do outro e entender seus sentimentos e pensamentos ajuda no relacionamento interpessoal. Ela conta que, em uma das atividades aplicadas nas aulas de Empreendedorismo Criativo, os alunos são submetidos a situações que os estimulam a se colocarem no lugar de uma pessoa que passa por dificuldades diárias — no caso, um indivíduo da terceira idade.

Segundo Luiza, o objetivo é conseguir sentir na pele os desafios de realizar atividades usuais quando alguns sentidos e movimentos já estão limitados. “Nessa aula, para exercitar a empatia e a capacidade de sentir o sofrimento por trás dos problemas de alguém, a turma inteira vive um dia como uma pessoa idosa, realizando uma série de desafios habituais a esses indivíduos.”

Alguns dos exercícios envolvem óculos com plástico bolha nas lentes e luvas de cirurgia para limitar os sentidos. Com esses obstáculos, os participantes devem realizar atividades cotidianas como costurar um botão, abrir um pacote de biscoitos e subir um lance de escadas.

Os estudantes ficam muito engajados e empolgados com as propostas dessa disciplina. “Costumo dizer que o aluno constrói esse conteúdo com o professor, colocando a mão na massa e, de fato, sendo protagonista. Ele tem autonomia na tomada de decisões para a entrega de cada atividade ou projeto.”

O papel do professor nesse processo

O professor tem um papel de facilitador durante essas atividades, de acordo com Luiza. “Ele se torna alguém que auxilia o aluno a chegar em conclusões diversas e de maneiras inesperadas, necessárias para a compreensão do conteúdo e construção do aprendizado.”

Ao final de cada atividade, existe um momento de reflexão sobre a dinâmica que foi aplicada e o fechamento do professor, a chamada ‘digestão da aula’. “Às vezes é até difícil encerrar esse momento quando o sinal toca, porque os alunos ficam muito envolvidos trazendo suas percepções, reflexões e aprendizados sobre a prática”, destaca. “De fato, eles se sentem pertencentes ao conteúdo.

O Empreendedorismo Criativo no desenvolvimento da empatia

Luiza explica que a disciplina de Empreendedorismo Criativo está intrinsecamente ligada a essa competência. Uma das definições de ‘empreender’ é entrar em movimento para resolver um problema. “Sendo assim, a empatia é o esforço de encarar a questão como quem é impactado, entrar na pele do outro e sentir as suas dores. Com essa forma de conexão, nenhum projeto, por mais criativo e mirabolante que seja, perde o seu propósito inicial de ser solução.

Isso significa que os alunos aprendem que um negócio ou empreendimento sempre precisa ter o objetivo de servir à sociedade, considerando a diversidade de cotidianos. “É difícil falar em empreender com propósito sem falar de empatia. É ela que dá aquele sabor especial para o processo e faz tudo ter sentido”, segundo Luiza.

A assessora acrescenta ainda que empatizar com a realidade de alguém vai muito além de pensar em se colocar no lugar do outro: é renunciar à própria perspectiva e a todos os pré-conceitos para experimentar uma realidade que pode ser diferente. Dessa forma, empatizar é renunciar a ter todas as respostas, todos os conselhos e todas as soluções possíveis para um problema. “É se permitir simplesmente ouvir a dor do outro, sem julgamentos, sem certo e errado, sem pensar como aquela experiência deveria ou não ser.”

Em todas as atividades, também é trabalhada a coletividade com os alunos, mostrando a eles a importância do trabalho em equipe e a força do grupo. “A experiência humana é uma experiência compartilhada. Empreender é um ato coletivo e a empatia que cria essa conexão”, finaliza Luiza.

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