Projetos em grupo, acesso à tecnologia e incentivo ao protagonismo dos estudantes favorecem a criação e a busca de solução para problemas
A criatividade é uma das habilidades citadas na segunda das 10 competências gerais da Educação Básica definidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ela estabelece que é preciso “exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas”.
O tópico se refere ao pensamento científico, crítico e criativo, muito trabalhado por escolas que utilizam metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem e como protagonistas da construção do seu conhecimento. Nesse cenário, as salas maker constituem ambientes essenciais para os alunos explorarem a criatividade, trabalharem em grupo e buscarem soluções para problemas.
Em geral, são espaços amplos para a execução de diferentes projetos interdisciplinares, de linguagem de programação à práticas com robótica, em que eles podem circular livremente, colocar a mão na massa e experimentar novos modos de aprender. Confira 4 elementos fundamentais para estimular a criatividade dos alunos e que estão presentes nas salas makers:
Liberdade e mobilidade para os alunos
Uma técnica comum para estimular a criatividade e fazer com que os pensamentos surjam de uma maneira mais fluida é modificar o ambiente. Uma pesquisa publicada na revista Contrapontos, da Universidade do Vale do Itajaí (SC), mostra que uma das formas de auxiliar o desenvolvimento de um espírito criativo na escola é promover um espaço de liberdade. As autoras afirmam a importância de proporcionar um ambiente propício à criatividade, que dê chances aos alunos de terem experiências e vivências criativas.
No caso da sala maker, o espaço é pensado para que os alunos possam movimentar mesas e cadeiras para a realização de projetos individuais e em grupo. Também costumam ser utilizados tapetes pedagógicos, bancadas comunitárias, estação de acesso a computadores, projetor, telão e uma variedade de materiais conforme o projeto realizado.
Trabalhos em grupo
Embora atividades individuais possam ocorrer na sala maker, é o trabalho em equipe que ganha destaque, ao desenvolver habilidades relacionadas à comunicação, cooperação, argumentação, empatia e colaboração, entre outras. Isso porque trocar ideias com outras pessoas é uma das maneiras mais efetivas de formular novos pensamentos e estimular a reflexão. A interação social, além de ser parte essencial da educação, também ajuda no desenvolvimento da criatividade. O diálogo entre colegas de classe pode juntar diferentes perspectivas de mundo e jeitos de pensar.
Professor como mediador da aprendizagem
Um estudo publicado na revista Aletheia, do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil, concentrou-se no clima para criatividade em sala de aula e buscou relacioná-lo à interação professor e aluno, enfatizando a importância que essa relação tem na construção e consolidação do processo de ensino e aprendizagem. Entre os elementos que poderiam potencializar a criatividade dos alunos, as autoras apontam, citando o autor J. Bruner, o papel do professor como “desafiador e não apenas o de fornecedor de respostas prontas”.
Assim, o educador assume a função de mediador do desenvolvimento e da aprendizagem dos estudantes. Cabe a ele propor dúvidas aos alunos. “O que é isso se não possibilitar novos pensamentos, descobrir novos caminhos; em resumo: desenvolver a criatividade”, diz o estudo. As autoras mencionam ainda Alencar & Fleith que, entre as várias possibilidades de como a relação professor-aluno pode ser construída de forma a possibilitar o desenvolvimento do potencial criativo, destacam:
- valorizar o aluno;
- confiar na sua capacidade e competência;
- apoiar sua participação em sala, principalmente quanto à expressão de novas ideias;
- fortalecer a autoconfiança, curiosidade, persistência e independência de pensamento;
- encorajá-lo a explorar situações novas e lidar com o desconhecido;
- expor o estudante apenas a críticas construtivas;
- considerar o erro como parte do processo de aprendizagem.
Acesso à tecnologia
As salas maker costumam disponibilizar computadores ou notebooks aos alunos, e as atividades, em geral, envolvem recursos tecnológicos. Elas podem incluir, por exemplo, uso de tapetes pedagógicos, robôs e os mais diversos recursos low tech para a realização de projetos.
Os modelos de aula variam segundo o conteúdo que será tratado, mas a abordagem sempre gira em torno da busca de soluções para problemas interdisciplinares. Essas soluções envolvem a aplicação de tecnologias digitais, como programação, robótica, eletrônica digital, internet das coisas, inteligência artificial e práticas maker.
Assim, os estudantes têm a oportunidade de transformar suas ideias em projetos tangíveis e podem aprender de forma prática disciplinas como ciências e matemática. Com o uso de tecnologia em sala de aula, é possível tornar conceitos abstratos mais concretos e acessíveis.
O artigo “Cultura maker: como sua aplicação na educação pode criar um ambiente inovador de aprendizagem”, publicado no Brazilian Journal of Development, indica que a cultura maker possibilita que os estudantes se apropriem de técnicas que permitem que eles se tornem produtores de tecnologia e não apenas consumidores. “Para isso, é fundamental uma abordagem interdisciplinar integrando conhecimentos e práticas de diferentes áreas do conhecimento”, afirmam os autores.