Abordagem busca integrar conhecimentos de diferentes áreas do saber, preparando os estudantes para lidar com os desafios complexos do mundo contemporâneo
A transdisciplinaridade é uma abordagem educacional e científica que transcende os limites tradicionais das disciplinas acadêmicas. Ela busca integrar conhecimentos, métodos e perspectivas de diferentes áreas do saber para abordar questões complexas de forma geral holística, gerando novos entendimentos que não ficam restritos a nenhum componente curricular isoladamente.
Essa prática reconhece a necessidade de unir múltiplas perspectivas para solucionar problemas do mundo real, sendo vista como um movimento importante para a produção de conhecimento, os avanços científicos e as transformações sociais e culturais do século XXI. Neste post, vamos explorar o conceito de transdisciplinaridade, o que a difere da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade, qual a sua importância e vantagens para a educação e como aplicá-la em sala de aula.
Qual é o conceito de transdisciplinaridade?
“Na perspectiva da transdisciplinaridade, o prefixo ‘trans’ indica aquilo que está entre as disciplinas, através das diversas disciplinas e mais além que qualquer disciplina, e tem por objetivo ajudar a compreender o mundo em sua complexidade e diversidade e romper com o isolamento disciplinar”. Essa é a definição apresentada no documento “Temas Contemporâneos Transversais na BNCC – Proposta de Práticas de Implementação”, publicado em 2019 pelo Ministério da Educação (MEC).
Ou seja, essa abordagem visa tanto a conexão entre disciplinas quanto a criação de novas formas de conhecimento que emergem dessa interação. A origem do termo remonta ao I Seminário Internacional Sobre Pluri e Interdisciplinaridade, realizado na Universidade de Nice, na França, em 1970. Sua autoria é atribuída ao suíço Jean Piaget (1896-1980), um dos mais importantes pensadores do século XX, com grandes contribuições no campo da educação.
Outro marco para a definição do conceito e de seus objetivos foi o I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, que aconteceu em Portugal, no ano de 1994. Nele, foi elaborada a Carta da Transdisciplinaridade, que estabelece alguns pontos interessantes para a discussão, como:
- “Toda e qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma definição e de dissolvê-lo em estruturas formais, sejam quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar.”
- “A transdisciplinaridade não procura o domínio de várias disciplinas, mas a abertura de todas as disciplinas ao que as une e as ultrapassa.”
Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: qual a diferença?
Para entender a diferença entre multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, primeiro é preciso compreender o conceito de disciplinaridade. Isso é o que dizia Hilton Japiassu (1934-2015), professor de Epistemologia e História das Ciências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considerado um dos principais pesquisadores contemporâneos da interdisciplinaridade.
Ele afirmava que disciplina tem o mesmo sentido que ciência, portanto a disciplinaridade significa a exploração científica e especializada de determinado campo de estudo. De acordo com o pesquisador, uma disciplina sempre depende da interação com outras diferentes disciplinas. Por isso, é necessário estabelecer esses diferentes níveis de contato.
O primeiro nível é a multidisciplinaridade. Nela, não há cooperação ou contato direto entre as disciplinas, mas sim uma sequência de conteúdos que se complementam, mas sem espaço para uma articulação ou discussão entre eles. Por exemplo, depois de entender o tipo de vegetação e de solo do Pantanal em uma aula de geografia, o aluno pode aprender sobre as estatísticas de desmatamento e queimadas do mesmo bioma em uma aula de matemática.
Já a interdisciplinaridade, um nível mais avançado de agrupamento, envolve uma espécie de equipe ou “força-tarefa” entre disciplinas para explicar um assunto em comum a partir de perspectivas diferentes. Ela pode contar com múltiplos professores em uma mesma aula ou o uso de jogos educativos e outras atividades lúdicas. Em provas de vestibulares atuais, é comum ver questões que misturam, por exemplo, conceitos de geografia e biologia, como o aquecimento global, ou de química e português, por meio da interpretação de texto do enunciado das questões.
Por fim, a transdisciplinaridade se define como um conceito muito mais abrangente do que a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade. Não basta ter inúmeros conhecimentos isolados de cada matéria, nem os unir temporariamente para resolver determinada questão: é preciso entender as conexões e interligações entre todos os conteúdos, abolindo a fragmentação das disciplinas. Ela costuma ser baseada em atividades práticas, como em um projeto de reflorestamento, que pode utilizar conceitos de biologia, geografia, sociologia e até mesmo de química e física.
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Qual a importância da transdisciplinaridade na educação?
A importância da transdisciplinaridade na educação reside na interconexão de saberes, resultando em uma aprendizagem significativa no lugar de conteúdos isolados sem propósitos claros. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), “é fundamental a adoção de tratamento metodológico que evidencie a contextualização, a diversificação e a transdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação entre diferentes campos de saberes específicos”.
Além disso, para uma educação universal, que atenda aos contextos e condições das escolas de todo o país, é essencial que a flexibilidade seja tomada como princípio obrigatório. A Base destaca a necessidade de “romper com a centralidade das disciplinas nos currículos e substituí-las por aspectos mais globalizadores e que abranjam a complexidade das relações existentes entre os ramos da ciência no mundo real”.
A transdisciplinaridade permite que a educação se torne um espaço de diálogo entre os diversos campos de saberes. Ela também prepara os alunos para os desafios do mundo contemporâneo, como as mudanças climáticas, a globalização e as desigualdades sociais, que são temas complexos e interconectados.
As vantagens do modelo de ensino transdisciplinar
O modelo de ensino transdisciplinar pode enriquecer e transformar a sala de aula, tornando os conteúdos mais significativos e interessantes para os alunos. Conheça alguns dos benefícios da transdisciplinaridade na educação:
- Pensamento crítico e criatividade: os alunos são incentivados a integrar diferentes perspectivas e metodologias e, por isso, aprendem a abordar problemas de forma inovadora e a considerar soluções que envolvem múltiplas áreas do conhecimento.
- Aprendizagem significativa: o entendimento de como as diferentes disciplinas se relacionam e se aplicam ao mundo real pode potencializar o engajamento e a motivação dos estudantes, já que eles percebem o sentido prático do aprendizado.
- Estímulo à curiosidade: explorar além dos limites de uma única disciplina ajuda a criar uma cultura de aprendizagem contínua, na qual os alunos se tornam investigadores ativos e buscam conexões e respostas por conta própria.
- Educação integral: por ter um caráter mais amplo e integrar diferentes perspectivas, a transdisciplinaridade se propõe a atender tanto às dimensões cognitivas quanto às habilidades socioemocionais dos alunos.
- Protagonismo do estudante: essa abordagem abre portas para metodologias ativas, que colocam os alunos no centro do processo educativo e os tornam coautores de sua própria aprendizagem.
- Preparação para a vida adulta: no mundo profissional, os desafios raramente se enquadram em uma única disciplina, e a capacidade de colaborar com profissionais de diversos campos é altamente valorizada.
- Formação cidadã: a transdisciplinaridade, ao abordar questões como ética, sustentabilidade e direitos humanos, ajuda os alunos a entenderem como suas ações podem impactar o mundo e incentiva uma postura mais responsável e comprometida com o bem comum.
- Interculturalidade: integrar diferentes perspectivas culturais promove uma visão mais inclusiva, essencial para uma sociedade diversificada e multicultural.
Como promover a transdisciplinaridade na escola?
É possível adotar algumas práticas alinhadas à essa abordagem pedagógica. A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), ou Project Based Learning (PBL), é um exemplo de metodologia que exige dos alunos a aplicação de conhecimentos de várias disciplinas para chegar à solução de um problema. Afinal, os projetos costumam abordar questões da vida real, que são naturalmente complexas e envolvem múltiplos campos do saber.
A inclusão de temas contemporâneos e transversais no currículo, como cidadania, ética, diversidade e meio ambiente, também é uma maneira de conectar disciplinas diversas. Uma discussão sobre direitos humanos, por exemplo, pode ser abordada em história, geografia e literatura, sendo explorada em diferentes aspectos e perspectivas.
O uso de ferramentas digitais na escola é outra prática que promove a transdisciplinaridade ao permitir a integração de diferentes disciplinas em projetos colaborativos. Esses recursos facilitam o acesso a conteúdos multimídia, possibilitando que alunos e professores explorem temas de forma mais abrangente e conectada, combinando conhecimentos de várias áreas para realizar atividades e solucionar problemas.
Uma sugestão para aprimorar essas práticas é o planejamento colaborativo entre docentes. Os educadores de disciplinas diversas podem cooperar ao planejar atividades e avaliações integradas. Isso pode ser feito por meio de reuniões regulares para compartilhar ideias e criar planos de aula que conectam os conteúdos das diferentes disciplinas.
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